Os Jogos Olímpicos
PARTE I
1. Origem
Os Jogos Olímpicos originais duraram mais de
mil anos, de 776 antes de Cristo a 395 depois de Cristo. Mesmo antes disso já
existiam competições parecidas, mas só a partir de 776 a.C. há registro oficial
dos jogos. Assim como a imitação moderna, as Olimpíadas, os jogos eram
realizados de quatro em quatro anos. Uma diferença com os jogos de hoje é que
antigamente o local era sempre o mesmo: a cidade de Olímpia, na Grécia.
Desde os tempos pré-históricos esse local era considerado sagrado, e quem
passava deixava uma oferenda para os deuses. Aos poucos começou a predominar
ali a adoração a Zeus, que era o principal deus grego, e alguns altares foram,
aos poucos, construídos. Existem lendas que explicam porque os jogos foram
iniciados e porque aconteceram em Olímpia, mas não se conhece as razões reais.
Os esportes, na sua origem, eram parte do
treinamento para soldados. Corridas, saltos, lutas, arremesso de dardo ou
martelo, tudo isso tem a ver com a guerra. Mesmo a ginástica olímpica tem
origem militar. Não é por acaso que uma das modalidades, aquela em que o
ginasta fica girando sobre as mãos em cima de um cavalete, chama-se
"cavalo". Isso era treino para soldados de cavalaria adquirirem mais
agilidade em cima de seus animais.
Ao mesmo tempo, havia um lado religioso nos
jogos. Existe uma crença grega que diz que o corpo tem tanta importância quanto
o intelecto e o espírito, e que a melhor maneira de honrar a Zeus é cuidar dos
dois aspectos, o físico e o espiritual. Olímpia se tornou uma cidade sagrada,
assim como hoje Jerusalém, ou Meca, e a ida aos jogos era tanto um divertimento
quanto uma peregrinação religiosa. É um pouco difícil de entender, porque na
nossa cultura esporte e religião são totalmente separados. No entanto, para o
grego daquele tempo, Olímpia seria uma espécie de Vaticano onde também
estivesse o estádio do Maracanã.
Existem ruínas de Olímpia, e descrições
antigas, que dão uma idéia do que era esse complexo esportivo-religioso, com
vários estádios e templos. No principal templo, o de Zeus, havia uma estátua de
marfim e ouro representando esse deus, estátua essa que media 13 metros de
altura e era considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Embora viajar, naquele tempo, fosse tão mais
difícil do que hoje, vinham milhares de pessoas, por terra e por mar, para
assistir aos jogos. Até de colônias gregas distantes, como a África ou a
Espanha, vinham viajantes. Um contemporâneo disse que "você vai a Olímpia
e morre de calor, é amassado pela multidão, passa fome e sede, toma chuva e
morre de frio, mas apesar disso vale a pena ir para ver espetáculos tão
bonitos."
A Grécia não existia como país — era apenas
uma região com cultura comum, mas com cidades independentes entre si. Essas
cidades viviam guerreando entre si, mas durante o período dos Jogos havia uma
trégua, respeitada por todos. A cada quatro anos, assim que se determinava a
data do início dos jogos (que era baseada na lua cheia), emissários saiam
viajando de cidade em cidade divulgando a data. Inicialmente a trégua era de um
mês, mas depois foi aumentada para dois meses, e mais tarde três, para proteger
os viajantes que tinham de vir de longe.
Só homens podiam competir nos Jogos antigos.
Para evitar que alguma mulher se fingisse de homem para competir — o que podia
acontecer, pois em algumas das cidades gregas mulheres eram soldados — deu-se
uma solução simples: todo mundo nu. Sim, é isso mesmo. Todos competiam nus, em
todas as modalidades de competição. Mulher podia, no máximo, assistir aos
jogos. E isso se fosse solteira. Mulher casada não podia nem assistir. Houve um
caso de uma mulher, viúva de um antigo campeão, que trouxe seu filho para
competir, fingindo-se de treinador. O filho ganhou e a mãe, entusiasmada, pulou
a cerca da pista para abraçar seu filho.
Ela foi reconhecida como mulher, mas não foi castigada em homenagem ao falecido
marido. Para evitar novos acontecimentos desse tipo, a partir desse dia também
os treinadores tinham de estar nus.
Aparentemente a razão para essa discriminação
contra as mulheres casadas era ligada ao aspecto dos jogos como ritual
religioso de fertilidade. Só as virgens eram consideradas suficientemente puras
para estar presentes.
2. Os jogos
Embora os jogos durassem só cinco dias, os
preparativos começavam um ano antes. As pistas precisavam ser niveladas, os
templos e estádios tinham sempre pequenos reparos a ser feitos. Os juízes eram
escolhidos dez meses antes e começavam a planejar tudo. Os candidatos a atletas
assumiam o compromisso de, dez meses antes, começar a treinar intensivamente.
Um mês antes do início dos jogos juízes e atletas tinham de ir para a cidade de
Elis, que dominava os jogos. Ali os atletas tinham que treinar sob a supervisão
dos juízes, que desclassificavam os que não estivessem em boa forma física.
Poucos dias antes do início começava a chegar
a multidão. Príncipes italianos vinham em lindos barcos, subindo o rio que
passava perto. Viajantes em carruagens ou a cavalo, os pobres em carroças,
jumentos, ou mesmo a pé. Camelôs, vendedores de comida e bebida, comerciantes
em geral, todos vinham aproveitar a chance de vender seus produtos a preços
absurdos, explorando os turistas.
Os jogos eram abertos com desfiles dos atletas
e juramentos aos deuses. Havia festas e bebedeiras todas as noites. No terceiro
dia, que coincidia com a lua cheia, era feito o grande sacrifício a Zeus. Cem
bois, doados pela cidade de Elis, eram sacrificados. Suas pernas eram cortadas
e queimadas em homenagem ao deus, que se alimentava com a fumaça. A carne era
usada para um grande churrasco no final do dia. No fim do quinto dia os prêmios
eram entregues, e havia mais festas e comemorações.
3. As modalidades
Nas primeiras vezes em que se realizaram os
jogos, havia uma única competição, que era a corrida curta. Este seria o
equivalente aos 100m rasos de hoje, só que naquele tempo a distância era de 192
metros. A pista tinha esse comprimento e era reta. Quando mais tarde se
adicionaram corridas maiores, corria-se ida e volta nessa mesma pista. A lenda
diz que essa distância foi determinada por Hércules, fundador mítico dos jogos,
e que essa era a distância que ele conseguia correr de um só fôlego, prendendo
a respiração.
Depois da corrida curta foi criada a dupla,
ida e volta, e depois a de 24 vezes a pista. Mais tarde veio a corrida com
armadura, em que os atletas corriam usando capacete, protetor metálico nas
pernas, e carregavam um escudo redondo. Escritores da época dizem que era muito
engraçado ver aqueles homenzarrões correndo com toda essa parafernália…e nus.
Muito mais tarde criou-se uma corrida de revezamento em que cada corredor, ao
acabar seu trecho, passava ao seu companheiro de equipe uma tocha acesa. O
vencedor tinha a honra de acender a fogueira do altar de sacrifícios. Essa
idéia foi usada para a abertura dos jogos de hoje em dia, em que um corredor
chega no estádio com uma tocha e acende uma chama simbólica.
Uma corrida que hoje é muito conhecida, mas
não existiu nos tempos antigos, é a maratona. A idéia moderna é baseada num
fato acontecido na Grécia Antiga, quando os persas desembarcaram em Maratona
para atacar Atenas. Um soldado ateniense correu 260km em dois dias para avisar
Esparta e pedir ajuda.
O pentatlo era outra competição importante,
introduzida em 708 a.C. Os cinco eventos eram arremesso de disco, salto,
arremesso de dardo, corrida e luta. Todos se realizavam numa mesma tarde. Os
dois últimos também aconteciam separadamente, mas os três primeiros só existiam
dentro do pentatlo. O salto era em distância, o único salto que os gregos
praticavam. Esse salto era dado de uma posição parada, sem corrida para tomar
impulso. Em vez disso usavam dois pesos, um em cada mão, que eram jogados para
frente para dar impulso. Esses pesos se chamavam "halteres".
Um pouco mais tarde foram introduzidas as
corridas de carros puxados por times de dois e de quatro cavalos e logo,
também, a corrida de cavalos como a conhecemos hoje, com o cavaleiro cavalgando
o cavalo.
4. Fim dos jogos antigos
Com o passar dos séculos, os jogos perderam
gradualmente seu significado religioso, e com a conquista da Grécia pelos
romanos esse processo continuou. Os romanos chegaram a saquear alguns dos
templos para financiar suas guerras, e o imperador Calígula tentou levar a
estátua de Zeus para Roma. Em 267 d.C. uma tribo de bárbaros vindos de onde é
hoje a Rússia invadiu Olímpia e destruiu parte dos edifícios. Em 393 d.C., o
imperador romano Teodósio, o primeiro imperador cristão de Roma, proibiu todos
os ritos pagãos. Em 426 d.C., o templo de Zeus foi destruído por um incêndio,
possivelmente por ordem de Roma. Novas invasões, dos Visigodos, vândalos e
outras tribos bárbaras, foram acontecendo e a cada uma mais um pouco era
destruído.
No século V um terremoto, seguido de uma
inundação, destruiu o que restava e cobriu as ruínas com uma camada de vários
metros de lama. A localização do santuário, com o tempo, foi esquecida. Só mais
de mil anos depois, em 1766, depois de séculos de esquecimento, o local foi
descoberto por um antiquário inglês. A partir de 1875 foi empreendida uma
escavação em grande escala. Até os dias de hoje os trabalhos de pesquisa
continuam, tentando descobrir mais e mais sobre Olímpia.
Comentários